18 de março de 2011

ORIGEM DAS PALAVRAS : AUTOMÓVEL– CARRO - ÔNIBUS

 

O alemão Karl Benz fabricou o primeiro automóvel em 1885, na cidade de Manheim. O motor tinha apenas um cilindro, contava com ignição elétrica e alcançava a velocidade espantosa de 16km por hora.

O veículo, porém, já fora inventado pelo francês Nicolas-Joseph Cugnot, ainda no século 18. Coube ao norte-americano Henry Ford popularizar esse meio de transporte, nos finais do século 19. É natural, pois, que os componentes do principal tormento das metrópoles sejam designados por palavras francesas e inglesas, embora uma das marcas mais famosas ainda ostente o sobrenome Benz, antecedido do prenome de Mercedes Jellinek, a filha do primeiro comprador de automóveis, homenageada, a pedido do pai, pelos fabricantes.

De todo modo, carro, do latim carrus , conquistou a hegemonia na designação, embora no mundo do automóvel chassi, chofer, cardã, sedã, cupê, embreagem, gasolina, caminhão, biela, derrapar, engrenagem, bagagem, ignição, limusine, manivela e pneu, palavras vindas do francês, convivam com as latinas roda, lanterna, colidir, luz, câmara e volante, que substituiu o francês guidom, e com suas irmãs vindas do inglês, como eletrônica, sedã, flanela, jipe, picape, airbag e van , as duas últimas ainda não aportuguesadas. O espanhol compareceu com painel, pinhão, farol, borracha e borracho.

O automóvel conquistou estradas e ruas, mas realizou também a conquista verbal das novas realidades que engendrou. E para isso recorreu às metáforas. O pneu careca resume o desgaste da borracha, sendo os fios comparados aos cabelos. O pára-brisa e seu limpador não servem apenas para evitar a brisa e retirar o orvalho dos vidros, mas também para proteger do vento, do frio e da chuva motorista e passageiros.

Carros desgovernados ou mal dirigidos podem derrapar, capotar, tombar. São metáforas. O provençal já tinha "derapar", que dobrou o erre no português, mas veio do francês déraper , arrancar. Pneus aderem à pista como deputados e senadores ao governo.

A camionete, diminutivo de caminhão, depois de designar pequeno ônibus, virou perua porque acolhe a muitos, enfeitada de cores espalhafatosas como as meretrizes e as mulheres mal vestidas. A pastilha dos freios certamente não se destina à mastigação humana, mas à mastigação de outras bocas, embora sem os dentes da engrenagem. A lanterna traseira avisa que o carro vai parar. Se acender e apagar com intermitência, piscar, vira pisca-pisca, indicando que vai dobrar à esquerda ou à direita.

E a mão e a contramão? A flecha substituiu a mão, cujo dedo indicador apontava a direção do fluxo, ensejando ainda que homens a pé, a cavalo ou de carruagem soubessem de que lado carregar o chicote, do francês chicot , originalmente pedaço de arbusto ou galho arrancado de uma árvore, depois substituído pelo acelerador, de acelerar, do latim accelerare , tornar celer , célere, rápido.

O chofer, que cuidava da caldeira das locomotivas, passou a guiar os primeiros automóveis, que eram movidos a vapor. O combustível foi substituído, o carvão foi embora, vieram a gasolina e o álcool, mas chofer e motorista, apesar da entrada do último combustível, não podem guiar borrachos. O gótico widan , juntar-se, e o latim medieval guidare forneceram os étimos de guidom ou guidão, como temos garçom e garção.

Os portugueses vacilaram na alfândega quando importaram o primeiro automóvel, mas a locomóvel, máquina agrícola, foi descartada. Carro e autocarro prevaleceram, este para designar o ônibus, do latim omnibus, para todos. No Brasil, os ônibus metropolitanos destinam-se a quem não tem carro. O inglês, como sempre, reduziu: carro, car ; omnibus , bus .

[JB - Coluna Língua Viva - 13/DEZ/2004]

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ÔNIBUS

(Márcio Cotrim)

No Latim, é o caso dativo de omnis, tudo, todo (daí onisciente, o que sabe tudo, onipotente, o que pode tudo, onipresente, presente em todo lugar). Como se sabe, é simplesmente o veículo que transporta muitos passageiros. Sua história merece ser contada.

O industrial Stanislas Baudry fazia moagem de grãos nos arredores da cidade francesa de Nantes. Como essa atividade exige grande volume de água quente, abriu uma casa de banhos, que aproveitaria o líquido excedente. Para atrair os clientes, implantou uma linha de carruagens puxadas a cavalo, que saíam do centro de Nantes. Seu ponto de embarque ficava em frente à mais elegante loja da cidade, chamada Monsieur Omnès, cujo dono adorava latim, tanto que adotou como slogan um trocadilho de seu nome com a palavra latina omne: Omnes Omnibus, tudo para todos. Em função disso, Baudry batizou suas viaturas de omnibus. O negócio dos banhos não prosperou, mas os bondes a cavalo foram um sucesso, o que levou Baudry a inaugurar, em Paris, duas linhas do gênero, cada uma transportando 14 pessoas.

Os motores dos bondes aposentaram os cavalos, bem sabemos. Agora, rodam pelo mundo em vários modelos, desde os chamados chope duplo, de dois andares, até os espantosamente coloridos e superlotados que circulam no Paquistão, nos quais, além de multidões aboletadas no teto, tem gente saindo pelas janelas na maior felicidade.

Um comentário:

Nirava Gulabo disse...

Como é bonito ver pais amorosos,(penso seja o caso, e não vaidade apenas) de sempre ter movimento, palavra ou um modo de elevar suas filhas. Amei saber a história de Mercedez Benz. Grata!