8 de janeiro de 2015

MORTE: A LIBERAÇÃO DA DANAÇÃO

Somos cria daquilo que criamos. Usa-se a fé como forma de delegar responsabilidade.  
Ednucci

MORTE: A LIBERAÇÃO DA DANAÇÃO



A Dona Morte, amiga da hipocrisia, tem por hábito trazer consigo a santificação do homem. E, danada que é, reserva graus de santificação – quanto mais violenta ela for, melhor para a moral do defuntado. 
A saída da carne é abençoada. Sai corrupto, faz-se santo. Sai bandido, vira coitado. Sai puta drogada, converte-se virgem cândida. Sai político canalha, entra para a história. 
O maldito, depois de sobreviver como artista medíocre/mediano, desce ao túmulo como herói.
– Ô, coitado, foi tão cedo, lamenta a carpideira no velório enquanto toca as mãos cruzadas sobre o peito do finado mal conhecido.
A morte refaz biografias, orna com auréola de inocência e exalta qualidades nunca antes vistas. 
A ideia de que todo morto vira santo é tão brasileira quanto a cachaça e a saudade, já disse alguém.
E a manchete no jornal anuncia:
“O cadáver foi encontrado totalmente imóvel dentro do veículo.”
Morreu aí o emprego de algum jornalista.
Mas é vida que vai, vida que vem:
– Quando minha filha nascer vou colocar o nome nela de Chumbinho. Comeu, morreu.


@Ednucci

Para os célebres, é bom morrer no Brasil. O morto deixa de ser humano, com defeitos e qualidades, e é canonizado.
Paulo Francis

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